Há novas esperanças para o tratamento do AVC

Vamos falar de um velho conhecido. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) tem esse nome porque o evento isquêmico pode ser abrupto e causar sintomas que se iniciam em intervalos muito curtos. Mas, na verdade, essa denominação não é a que melhor sintetiza o que acontece, pois não se trata exatamente de um “acidente” – já que em muitos casos pode ser evitável. A denominação mais correta seria “doença encefálica cerebral”. Vamos entender isso melhor?

Há uma obstrução progressiva das artérias do cérebro que culmina com o entupimento muitas vezes repentino de uma delas, levando à isquemia (quando parte do cérebro deixa de receber sangue) e, consequentemente, morte do tecido cerebral. Um processo semelhante ao infarto, além disso há a possibilidade da formação do trombos em outra parte de corpo que se soltam e podem migrar para o cérebro.

É justamente quando acontece o rompimento dessas artérias que ocorre o que chamamos de acidente vascular cerebral hemorrágico. Em geral, esses eventos (isquemia e hemorragia) acometem pacientes com fatores de risco bem determinados, como hipertensão, tabagismo, obesidade e dislipidemia. O tratamento do AVC deve ser sempre dividido em duas partes: curto prazo (com o objetivo de restabelecer o fluxo sanguíneo cerebral), e longo prazo (reabilitação).

Os principais desafios relacionados ao AVC são a prevenção e a reabilitação. E o controle dos fatores de risco é de suma importância para a prevenção. Em relação ao tratamento de curto prazo, a maior dificuldade consiste no restabelecimento do fluxo sanguíneo do cérebro. Existem diversos meios para isso, tanto mecânicos (cateteres intravasculares que retiram o êmbolo) como medicamentosos (substâncias intravasculares anticoagulantes que dissolvem o coágulo). Nesses casos, a consulta médica de emergência é absolutamente necessária.

Já no longo prazo, o paciente com sequela neurológica precisa de tratamento e reabilitação intensos. Muitas novidades poderão vir no futuro para melhorar esses procedimentos, permitindo seu retorno às atividades diárias. Para evitar novos episódios, a prevenção é fundamental, por meio do controle dos fatores de risco já descritos.

O que há de novo no tratamento do AVC?

Dividimos o tratamento do AVC em agudo e crônico. O primeiro se baseia em diminuir as repercussões do evento por meio de técnicas de revascularização com medicamentos ou até cirurgias intravasculares (para tentar diminuir a quantidade de neurônios que morrem). No longo prazo, o tratamento consiste na reabilitação do paciente, com procedimentos para estimular os neurônios não afetados a assumirem a função dos neurônios que foram atingidos pelo AVC, além da recuperação dos neurônios que sofreram lesão mas ainda são viáveis.

Para isso, a fisioterapia especializada é imprescindível – mas medicamentos também podem ajudar. Existem muitas técnicas de estimulação cerebral em desenvolvimento, além de células-tronco, que prometem diminuir as sequelas, acelerando a recuperação. Vamos conhecer alguns desses tratamentos mais promissores?

Trombectomia mecânica

Esse nome esquisito nada mais é do que um procedimento realizado por dentro do vaso para quebrar o coágulo que está causando a isquemia e levar o sangue de volta à área do cérebro afetada. Novas técnicas e materiais estão permitindo a aplicação desse procedimento em cada vez mais pacientes, de maneira mais rápida e eficiente, diminuindo as sequelas do AVC. Feitas no menor tempo possível, as trombectomias (tanto as mecânicas quanto as químicas) também podem evitar a morte de mais neurônios afetados por um AVC.

DBS

A DBS (sigla em inglês para “Deep Brain Stimulation, ou, “Estimulação Cerebral Profunda”) sinaliza com perspectivas bastante positivas no tratamento de doenças cerebrais. Muitas regiões do encéfalo foram testadas com esse procedimento para tratar o AVC (3). A mais promissora parece ser uma região do cerebelo chamada de “núcleo denteado”. Depois de estudos bem-sucedidos com macacos, os primeiros seres humanos já estão sendo submetidos a essa terapia, com resultados que superam as expectativas (4).

TMS

A TMS (sigla em inglês para “transcranial magnetic stimulation”, ou, “Estimulação Magnética Transcraniana”) opera com pulsos eletromagnéticos que, de forma não invasiva, estimulam regiões do cérebro. Um método já consagrado no tratamento da depressão que vem sendo utilizado em outras doenças, como dor e sequelas do AVC, trazendo benefícios significativos para os pacientes (2). No caso do AVC, as pesquisas indicam que o TMS pode ajudar na melhora motora e na afasia (distúrbio da fala).

e-Stroke Suite

Já o e-Stroke Suite é um método baseado na inteligência artificial que compila e trata as imagens utilizadas para o diagnóstico do AVC, auxiliando a equipe médica a tomar decisões sobre o tratamento do paciente. Não se trata exatamente de um novo tratamento, mas sim de uma nova técnica de diagnóstico e encaminhamento do paciente para que ele receba o melhor tratamento possível. Basicamente, o e-STROKE Suite (1) aponta onde ocorreu o entupimento do vaso sanguíneo e as áreas que ainda podem ou não ser salvas, conforme o tempo decorrido desde o início da manifestação dos sintomas.

REFERÊNCIAS:

1) Imaging in StrokeNet: Realizing the Potential of Big Data
David S Liebeskind, Gregory W Albers, Karen Crawford, Colin P Derdeyn, Mark S George, Yuko Y Palesch, Arthur W Toga, Steven Warach, Wenle Zhao, Thomas G Brott, Ralph L Sacco, Pooja Khatri, Jeffrey L Saver, Steven C Cramer, Steven L. Wolf, Joseph P Broderick, Max Wintermark Stroke. Author manuscript; available in PMC 2016 Jul 1.
Published in final edited form as: Stroke. 2015 Jul; 46(7): 2000–2006. Published online 2015 Jun 4. doi: 10.1161/STROKEAHA.115.009479

2) New modalities of brain stimulation for stroke rehabilitation
M. A. Edwardson, T. H. Lucas, J. R. Carey, E. E. Fetz
Exp Brain Res. Author manuscript; available in PMC 2015 May 20.
Published in final edited form as: Exp Brain Res. 2013 Feb; 224(3): 335–358. Published online 2012 Nov 29. doi: 10.1007/s00221-012-3315-1

3) Brain Stimul. 2018 Jan – Feb;11(1):3-28. doi: 10.1016/j.brs.2017.10.005. Epub 2017 Oct 12.
Deep brain stimulation for stroke: Current uses and future directions.
Elias GJB1, Namasivayam AA1, Lozano AM2.

4) https://consultqd.clevelandclinic.org/dbs-for-stroke-recovery-first-patients-early-results-exceed-expectations/
https://www.youtube.com/watch?v=EbJDJSQhxV8
https://www.youtube.com/watch?v=8jacQOSOCwc