Curiosidades e novidades no tratamento da síndrome do intestino irritável e constipação

Ter um mal-estar estomacal ocasional ou um desarranjo intestinal de vez em quando é mais do que normal. O problema é quando a dor e/ou desconforto abdominal ocorrem pelo menos três dias por mês. Pior ainda se nos últimos três meses eles estiverem associados a dois ou mais dos seguintes sintomas: melhora com a defecação, alteração da frequência das evacuações ou variação na forma das fezes. Aí, é bom ligar o sinal de alerta, pois pode ser um quadro de Síndrome do Intestino Irritável, também conhecida como SII.

Pouca gente sabe que essa doença incapacitante tem uma particularidade curiosa: ela é considerada uma enfermidade do eixo cérebro-intestino. Isso mesmo: a SII está associada com histórias de traumas, abusos na infância, transtornos de ansiedade, depressão e valores aumentados dos chamados “hormônios de estresse”. Mais da metade dos casos dessa síndrome começam com manifestações intestinais que posteriormente evoluem para sintomas psicológicos.

Já a constipação é uma disfunção diferente: ela se caracteriza quando há duas ou menos evacuações por semana, com ou sem esforço excessivo para tal. Essa infrequência é o sintoma mais comum, mas a diminuição de volume ou peso das fezes, a necessidade de esforço ao defecar e a sensação de evacuação incompleta também são formas de manifestação da doença.

Como essas doenças podem ser tratadas?

Em primeiro lugar, é preciso fazer mudanças na dieta do paciente, tanto para SII como para constipação. Uma alimentação rica em fibras pode ser muito benéfica. Outra medida é evitar os alimentos que pioram os sintomas. Isso varia de pessoa para pessoa: o ideal é criar uma espécie de agenda para anotar as refeições diárias e a reação do intestino após cada uma delas.

Mudanças no estilo de vida também são muito importantes: o horário e tamanho das refeições pode afetar o funcionamento intestinal. A prática de exercícios físicos e métodos de relaxamento como yoga e meditação tendem a melhorar o quadro.
Mas atenção: se as mudanças na dieta não forem efetivas, o tratamento medicamentoso pode ser indicado, visando diminuir os sintomas e favorecer a qualidade de vida do paciente, sempre com acompanhamento de um especialista.

A boa notícia é que existem novidades promissoras no que se refere a tratamentos em estudo para a SII. Além do desenvolvimento de novos medicamentos, também estão sendo testadas medicações já existentes, como os antidepressivos, para tratar a doença.

A terapia cognitivo-comportamental também pode ser muito útil para os pacientes da síndrome, pois auxilia na maneira de lidar com situações de estresse, além de facilitar a aceitação das mudanças no estilo de vida necessárias para o tratamento da SII.

Choques na orelha também são aliados poderosos

Considerando como o cérebro afeta nosso intestino, técnicas de estimulação cerebral também estão sendo desenvolvidas para o tratamento da SII. Os estímulos na orelha e em outras partes do corpo atuam sobre o nervo vago, que é o maior do nosso corpo, indo do crânio até a barriga. Por ter importância vital no controle do coração e das vísceras abdominais, ele se relaciona com a função intestinal na Síndrome do Intestino Irritável.

A estimulação do nervo vago tem a capacidade de alterar o ritmo da motilidade do intestino, melhorando os sintomas de pacientes com SII e constipação. Esse procedimento pode ser feito diretamente com eletrodos implantados sob a pele do pescoço (através de uma incisão), técnica usada para tratamento de epilepsia há mais de 20 anos.

A novidade é que a estimulação do nervo vago também pode ser feita por fora da pele, utilizando os pontos da acupuntura chinesa. A promessa é modular a atividade vagal com eletrodos que estimulem esses pontos sem precisar cortar o paciente.

Outro tratamento que envolve o nervo vago é a neuromodulação gastrointestinal, que está sendo estudada para tratar diversos distúrbios intestinais, como as doenças inflamatórias crônicas, a dispepsia funcional, o refluxo gastroesofagiano, a constipação crônica e a SII. Além disso, a neuroestimulação espinal e a sacral estão sendo testadas para melhorar o controle fecal em pacientes com incontinência após lesões na medula.

Descobriu-se também que o nervo vago controla os hormônios inflamatórios que acompanham situações de estresse, responsáveis por muitas doenças. A modulação do nervo vago também poderia controlar a liberação desses hormônios nocivos à saúde.

Como se vê, muito tem sido estudado sobre o nervo vago e muito ainda está por vir. São ótimas notícias para quem sofre de constipação e de SII. Estamos de olho nas pesquisas e, quando houver novidades, atualizaremos vocês aqui.