A dor crônica afeta ao menos 37% dos brasileiros (1). Isso equivale a cerca de 60 milhões de pessoas. Não é pouco. De modo geral, são consideradas dores crônicas aquelas que persistem ou recorrem por mais de três meses. Além do sofrimento físico, elas trazem consequências psicológicas, sociais, profissionais e familiares, afetando não somente o paciente, mas todos à sua volta.
A dor traz limitações funcionais e impede o paciente de trabalhar ou praticar exercícios físicos livremente, especialmente em idosos (2) e mulheres (3). Esse conjunto de fatores pode levar o portador de dor crônica a ter outras doenças associadas, como ansiedade e depressão (4), que pioram ainda mais o quadro do paciente. Por esses motivos, é necessário o tratamento incisivo e rápido da dor antes que evolua para a cronicidade.
As dores articulares, lombares, bucofaciais (5), de cabeça e as neuropatias estão entre os tipos de dor crônica mais comuns. Há diversas formas de tratar esses casos: analgésicos, acupuntura (6), estimulação elétrica, botox, cirurgia, alimentação adequada, exercícios e, recentemente, até células-tronco estão sendo utilizadas. Mas e quando isso não é suficiente?
É aí que entram em cena os opioides (7), medicamentos derivados da papoula, planta usada para produzir ópio e heroína. A morfina e a codeína estão entre os opiáceos naturais mais conhecidos.
Mas por que as drogas opioides ajudam a aliviar a dor? Entre outros motivos, porque atuam como depressores do sistema nervoso central, reduzindo sua atividade – isso provoca a analgesia (perda ou diminuição da sensibilidade à dor).
Mas esses fármacos exigem cuidados redobrados, pois também podem deprimir outras regiões do cérebro, como as que controlam os batimentos cardíacos, a respiração e a pressão sanguínea, além de causarem efeitos colaterais como náusea e constipação.
Certo, mas há o risco de viciar?
Outro problema relevante que envolve o uso de opioides é o seu potencial viciante (8). Como nosso organismo tende a se tornar tolerante a esses medicamentos, há uma propensão ao aumento gradual das dosagens – é preciso de cada vez mais comprimidos para obter o mesmo alívio. O risco de dependência é amplificado pela sensação de bem-estar, torpor e relaxamento muscular proporcionado pelos opiáceos de um modo geral. Algo semelhante ao “barato” propiciado pelos entorpecentes.
Essa conjunção de fatores está desencadeando um crescimento preocupante do uso de opioides no país. Segundo estudo da FioCruz (9) deste ano, 4,4 milhões de brasileiros já fizeram uso dessas medicações sem receita médica. Isso corresponde a quase 3% da população, três vezes mais do que os que já experimentaram crack, por exemplo.
A venda prescrita dessa modalidade de analgésico cresceu 465% nos últimos seis anos e esses números dispararam um sinal de alerta para o risco de uma epidemia de viciados em medicamentos opiáceos, como ocorreu nos EUA (10).
Os derivados da codeína representam quase a totalidade das prescrições. Se por um lado são considerados opioides mais leves, por outro podem ser uma porta de entrada para opioides mais fortes, como a oxicodona (11). (https://www.cartacapital.com.br/sociedade/uso-de-opioides-dispara-no-brasil-e-acende-alerta-para-epidemia/)
Por isso, é fundamental ter o máximo cuidado ao administrar o uso prolongado desses analgésicos para dores agudas. A recomendação é tentar alternativas menos lesivas e perigosas antes de adotar esse tipo de droga, como medicações mais leves ou atividades físicas supervisionadas.
Em resumo, a única forma segura de tratar a dor com opioides, reduzindo o risco de dependência e/ou tolerância, é com acompanhamento médico rigoroso.
Validation of an educational booklet for people with chronic pain: EducaDor Validação de uma cartilha educativa para pessoas com dor crônica: EducaDor Ana Shirley Maranhão Vieira1 , Kamyle Villa-Flor de Castro2 , Janine Ribeiro Canatti2 , Iasmyn Adélia Victor Fernandes de Oliveira2 , Silvia Damasceno Benevides2 , Katia Nunes Sá
1) (Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), a Universidade Federal de Santa Catarina e a Faculdade de Medicina do ABC.).
2) (Chronic pain in the elderly, associated factors and relation with the level and volume of physical activity Dor crônica em idosos, fatores associados e relação com o nível e volume de atividade física Fátima Ferretti1 , Marcia Regina da Silva2 , Fabiane Pegoraro3 , Jéssica Elis Baldo3 , Clodoaldo Antonio De Sá1)
3) ( Chronic pelvic pain portraits: perceptions and beliefs of 80 women Retratos da dor pélvica crônica: percepções e crenças de 80 mulheres João Elias de Godoi1 , Dário Rafael Macêdo dos Reis1 , Jakeline Resende Carvalho1 , José Miguel de Deus2)
4) (Relationship between the perceived social support and catastrophization in individuals with chronic knee pain Relação entre suporte social percebido e catastrofização em indivíduos com dor crônica do joelho Bruna Almeida1 , Adriana Capela1 , Joana Pinto1 , Vânia Santos1 , Cândida G. Silva1,2, Marlene Cristina Neves Rosa)
5) (Chronic Orofacial Pain, Cognitive-Emotional-Motivational Considerations A Narrative Review.Heir GM1.)
6) (Efficacy of acupuncture in rheumatic diseases with spine involvement: Systematic review. [Article in English, Spanish] Nishishinya Aquino MB1, Pereda CA2, Muñoz-Ortego J3.)
7) ([Pain inhibition by opioids-new concepts].[Article in German] Stein C1.)
8) (Opioids for Chronic Noncancer Pain: A Systematic Review and Meta-analysis. Busse JW1,2,3,4, Wang L1,2,5, Kamaleldin M6, Craigie S3, Riva JJ3,7, Montoya L8, Mulla M3,9, Lopes LC10, Vogel N11, Chen E12, Kirmayr K13, De Oliveira K14, Olivieri L15, aushal A1,3,16, Chaparro LE17, Oyberman I17, Agarwal A3,18, Couban R1, Tsoi L19, Lam 20, Vandvik PO21, Hsu S3, Bala MM22, Schandelmaier S3,23,24, Scheidecker A2,25, brahim S3, Ashoorion V1,26, Rehman Y1,27, Hong PJ28, Ross S3, Johnston BC3,29, unz R24, Sun X3,5, Buckley N1,2, Sessler DI30, Guyatt GH3.)
9) (Rising Trends of Prescription Opioid Sales in Contemporary Brazil, 2009–2015 Noa Krawczyk, BA, M. Claire Greene, MPH, Rafaela Zorzanelli, PhD, and Francisco I. Bastos, MD, PhD)
10) (Current perspectives on the opioid crisis in the US healthcare system: A comprehensive literature review. Stoicea N1, Costa A1, Periel L1, Uribe A1, Weaver T1,2, Bergese SD1,3.)
11) (https://www.cartacapital.com.br/sociedade/uso-de-opioides-dispara-no-brasil-e-acende-alerta-para-epidemia/)